Da Terra
Ver, através da memória
A ideia para o filme surgiu por acaso, no momento em que se tornou evidente que era possível “mostrar” as terras apenas através da memória — já que os locais, hoje, são praticamente impossíveis de distinguir. Só os hábitos e os saberes antigos permitem reconhecer confrontações, marcos, pequenas saliências e os usos de outrora.
“Ver” sem “mostrar” é uma capacidade própria da memória — e é precisamente isso que esta peça documental explora: o olhar lançado sobre as protagonistas, as suas descrições, dúvidas e certezas sobre o verdadeiro significado da terra para as pessoas, tanto do ponto de vista económico como emocional.

O minifundio, um fenómeno característico de várias regiões do norte de Portugal, é um sistema de propriedade em que as terras estão fragmentadas em pequenas parcelas, frequentemente detidas por diversas famílias.
A norte do Rio Tejo, esta estrutura fundiária tem raízes históricas e culturais profundas, mas também trouxe consigo vários desafios, como a dificuldade em promover a gestão florestal adequada e a suscetibilidade a incêndios florestais.
Uma particularidade deste processo reside na valorização da memória coletiva das comunidades. A sabedoria e os relatos das gerações mais antigas têm sido instrumentais na identificação e delineação precisa dos terrenos.


Estas pessoas, detentoras de histórias e lembranças, frequentemente recordam-se de marcos específicos, árvores antigas, nascentes escondidas, pedras singulares e até caminhos outrora utilizados – detalhes que muitas vezes escapam ao olhar comum e que a modernidade e a evolução do terreno esconderam.
Tais detalhes, muitas vezes considerados triviais ou desvalorizados, mostram-se fundamentais para identificar, com precisão, os limites e particularidades de cada parcela de terra.








Ao integrar esta abordagem baseada na memória oral das comunidades, este filme que retrata um processo de registo por parte de uma família de Amor, Leiria, que tem na sua posse mais de 70 parcelas de terra – presta uma homenagem à rica herança cultural e histórica destas regiões.
Este recurso à memória coletiva, mais do que uma ferramenta técnica, tornou-se um exercício de resgate da identidade e do legado das comunidades minifundiárias a norte do Tejo.
Reconhecendo e valorizando estas narrativas, o processo torna-se mais inclusivo e enraizado, garantindo que a verdadeira essência destes territórios não se perca no tempo.
Em fase de Submissão a Festivais – Veja aqui o Trailer.