Aurora

(Offline) Em fase de submissão a Festivais
A Aurora observa a sua vida através dos olhos de uma boneca de porcelana. A sua história funde a realidade com a sua dimensão psicológica, marcada por isolamento e violência.

Estamos no início dos anos 80, no interior de Portugal, um período em que se sente fortemente o impacto nos que ficaram, após o êxodo das populações rurais, iniciado nos anos 50.

A maioria dessa população vivia numa cultura de subsistência e migrou para as cidades em busca de oportunidades, deixando para trás uma realidade cada vez mais empobrecida. Muitos dos que partiram não quiseram ou não puderam regressar. E os que ficaram, tiveram cada vez menos meios para melhorar as suas condições.

Apesar de haver excepções, em muitos destes locais desertificados soçobrou a decadência nas suas formas mais violentas: o esquecimento, a ignorância, a impunidade.

Nesta história cruzam-se três elementos: Ernesto, um homem rude e decadente; Aurora, que brinca e fala com a sua boneca; e os locais — simultâneamente belos e austeros.

Aurora parece habitar um universo paralelo, um palco onde reinventa o quotidiano através dos olhos de uma boneca de porcelana, como testemunha dos seus monólogos interiores e testemunha das suas experiências.  

À medida que a história se desenrola, o factual vai-se entrelaçando com o psicológico — surgindo a expressão do abandono, da solidão e da violência: Aurora aproxima-se progressivamente da encarnação da mulher adulta que um dia deixou de existir.

Ernesto — o homem que cava uma sepultura improvisada e que termina os seus dias a consumir aguardente — personifica a perda de controlo, transformando-se num agressor possessivo e a mulher na sua vítima, até à cova prematura.

A violência emerge através de expressões sonoras, passadas de revés, arrancando no caos até à inocência. Aurora assiste à revelação dessa descoberta. Ernesto consuma a sua decadência irreversível. A Boneca é testemunha do que não pode ser esquecido.

O ponto de partida: Renacer de Eva Díez
AURORA foi inspirada em Renacer da fotógrafa galega Eva Díez. Nas suas fotografias de casas abandonadas, a autora intervém com feixes de luz «símbolo de energia e também de verdade, invade estas ruínas, recupera as suas memórias, habita estas casas, dando-lhes assim uma nova vida.»

Tal como em Renacer, onde a luz invade o espaço, em Aurora é o som que se liberta das paredes de pedra das casas abandonadas, revelando a consciência do que ali aconteceu — desde momentos de inocência a atos de violência. 


Carolina Monteiro: Aurora
Manuel João Vieira: Ernesto

Realização: Miguel Chichorro
Fotografia e Câmera: Fernando Brito
Som: Marco Laureano e Yuri Laureano
Assistente de Realização: Marco Laureano
Assistente de Câmera: Carlos Gil
Produção: Manuela Veiga
Assistente Produção: Lucília Laureano
Caracterização: Elisabete Rodriguez e Sónia Duarte Lopes
Direção de Arte: Sónia Duarte Lopes
Figurinos: Paula Miranda
Anotação: Beatriz Fradinho
Video Assist / Assistente de Câmera: Marco Lopes
Agradecimentos: António Duarte (Aldeia do Soito) e Jorge Lucas (Lousitânea)

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